quarta-feira, 17 de agosto de 2011

20/08: Márcio Sno no Fanzineiros do Século Passado

Resende RJ.


Entrevista com o diretor do Fanzineiros do Século Passado - Márcio Sno.

agradecimentos: Júlio Black e Roberta Caulo

Com toda essa onda de internet com blogs, sites especializados, redes sociais... As novas gerações ainda têm ideia do que é um fanzine?

É curioso isso. Quando vou dar oficinas de fanzines e eu chego com a pergunta: alguém aqui sabe o que é fanzine? Geralmente fica um silêncio: ninguém sabe. E quando eu começo a falar, mostrar e fazer com que façam fanzines, eles ficam encantados, como se descobrissem um pote de ouro!Percebo que a geração de agora de 15 anos, mais ou menos, acaba descobrindo o que é fanzine de forma mais passiva, ou seja, quando algum educador leva a proposta para a sala de aula.Mas fazendo um balanço geral, são poucos que sabem o que realmente significa um fanzine.

Como você, particularmente, conheceu esse universo?

No começo dos anos 1990, eu era fissurado em revistas de histórias em quadrinhos e de rock. E eu sempre via anúncios para adquirir fanzines, mas eu não sabia do que se tratava. Lembrando que naquela época não tinha internet para "dar um Google" e ter a resposta em segundos... Escrevi para um desses contatos perguntando: "quanto custa o seu fanzine", como se soubesse do que se tratava! Quando eu adquiri, conheci in loco o que era um fanzine. Percebi que eu poderia também fazer o meu e, desde então, me envolvi de tal forma nesse universo que estou nele até hoje!

O que mais te atraiu na proposta dos fanzines?

Várias questões: fazer parte do outro lado da notícia, ou seja, passar de receptor para emissor. A vontade de produzir algo, divulgar trabalho de amigos, colocar no papel e espalhar as minhas ideias, crenças, descrenças e pensamentos. Enfim, me tornar um produtor e distribuidor de cultura. Lógico que isso tudo só percebi com o tempo, mas isso representa bem o que me prendeu a isso tudo.

Como a família, amigos que não conheciam esse “mundo”, encaravam o seu envolvimento?

Até hoje tenho amigos que não sabem do que se trata. Tenho parentes que nunca entenderão. Porém, sempre tive apoio total de minha família em relação ao meu trabalho com os fanzines. Lembro que quando comecei, eu ajudava em casa nas contas, coisa e tal e que às vezes minha mãe dava um alívio para que eu pudesse pagar as cópias dos fanzines... Portanto, sempre teve um apoio, mesmo que indiretamente.

O que era mais difícil na era dos fanzines pré-internet? A falta de acesso à informação? O contato com os outros fanzineiros? Ou os próprios custos de criação/distribuição/aquisição?

De todos que citou, o que era mais difícil, era o custo. Afinal, quem edita fanzine, jamais pode pensar em lucro, muito pelo contrário. Você já tem que estar ciente de que gastará para colocar seu trabalho na rua. Isso é básico. A falta de tempo também era um outro fator, pois fanzine nunca foi ocupação principal. Agora, os demais itens, o acesso era difícil, afinal, os contatos eram feitos via carta e as informações eram quase que exclusivamente via fanzines. Porém, a coisa acontecia de uma forma muito intensa. E esse é um dos pontos que abordo no documentário Fanzineiros do Século Passado. Naquela época formávamos o que chamo de "rede social analógica", onde todo mundo se conhecia e o espírito de colaboração era mais forte.

Os fanzines brasileiros eram conhecidos e elogiados no exterior?

Sim, e como! Fiz parte de uma geração que trocava muitas informações com fanzineiros do exterior (também via correio). Eu mesmo mantive contato com pessoas de muitos lugares do mundo, com meu inglês bizarro e eles devolvendo com um inglês na mesma linha! Uma vez aconteceu um evento na Espanha que houve uma invasão de fanzines brasileiros que chamou bastante a atenção dos organizadores. E isso ajudou a fortalecer muito a produção na época.

Qual foi a mais nítida sensação que você teve com a internet ocupando boa parte do espaço dos zines de papel?

Desde quando ela surgiu, em meados da década de 1990, que eu chamo de "década paradoxal", afinal, na primeira metade foi quando mais se produziu fanzines e na segunda, com a popularização dos computadores pessoais e o surgimento da internet, houve uma queda drástica da produção de impressos. Os editores passaram a produzir blogs em que, além do custo quase zero, havia muito mais recursos. Tenho feito muitas pesquisas em livros importados sobre o tema e, curiosamente, essa movimentação aconteceu nos Estados Unidos e Europa exatamente uma década antes! Porém, lá fora o impacto foi mesmo com a chegada da internet, logo perceberam que os dois formatos poderiam caminhar juntos e a produção continuou. Hoje acontecem eventos tão gigantescos de fanzines nesses países que nem parece que a internet apareceu por lá! Tomara que o povo daqui consiga sacar isso logo!

Até que ponto a internet foi boa ou ruim nesse novo método de difundir a cultura alternativa?

Sempre que se fala de internet, a palavra que vem na minha cabeça é: paradoxo. Da mesma forma que ela facilita, ela complica. Da mesma forma que aproxima, distancia. Antes da internet, tudo era muito mais fechado, você sabia onde encontrar determinado grupo, música, pessoas etc. Com as facilidades tecnológicas atuais, hoje qualquer um pode publicar o lançar o que quer. Isso é bom que democratiza o acesso, produção e distribuição, porém, acaba criando mais do mesmo. E, com isso, o garimpo de algo diferente ou de qualidade fica mais difícil e árduo. O que antes era um lago, hoje é um oceano.

Da época em que você passou a fazer parte do meio, quais fanzineiros ainda continuam na ativa?

São poucos, afinal, as pessoas crescem, casam, têm filhos, assumem cargos estratégicos e acabam deixando de lado a produção de fanzines. O Renato Donisete edita o Aviso Final há exatos 21 anos! Pense nisso... Ainda tem o Edgard Guimarães que já edita o QI, que uma das maiores referências desde sempre. Ainda tem o Renato Rosatti, que já lançou centenas de fanzines e hoje ainda edita o Juvenatrix. Ainda tem outros, mas esses são os que me passam na cabeça...

Qual o perfil atual do “consumidor” de fanzines?

Talvez o de sempre: uma pessoa que está em busca de informações que não encontra em outros meios de comunicação.

Qual tipo de fanzines tem maior retorno atualmente?

Acredito os quais os editores se dedicam mais à questão visual, utilizando de materiais e técnicas diferenciadas, tornando cada cópia um documento único. Exemplo disso é o La Permura! do Rodrigo Okuyama e o Cidades Pequenas de Daniel Cucolicchi, que são feitos um a um, colados, coloridos, costurados. Isso faz com que a cópia física, não a em PDF, seja fundamental.

Que conselhos você daria para um fanzineiro iniciante?

Faça. Resista. E nunca desista. Acho que essas palavras são básicas para quem não quer ficar parado como um simples observador. Se ninguém faz, façamos!

--

FANZINEIROS DO SÉCULO PASSADO
- O Documentário

Sábado, 20/08/11.

18:00
Exibição do doc "Fanzineiros do Século Passado"
+ bate papo com Márcio Sno (diretor)

19:30 - bandas
- THE ALCHEMISTS, punk - www.thealchemists.bandcamp​.com
- KIORE, alt. metal - www.purevolume.com/kiore

+ DJ nos intervalos!
+ expo de zines impressos!

ENTRADA:
R$5 na lista amiga (envie nome e RG p/ subterraneaprod@gmail.com até 19/08)
R$10 na portaria.

LOCAL: R. Timburibá, 19, Centro Histórico, Resende/RJ
(ao lado do CCRR).
Info: (24) 3355 3020 / facebook.com/casasubterranea.

2 comentários:

Xan disse...

Tenho muito orgulho de conhecer o Marcio há anos, de ter participado de fanzines com ele, e de estar agora nessa empreitada áudio-visual.
Parabéns pela entrevista e pelo evento!
Lembrando que a tour dele no estado termina no domingo no SESC Barra Mansa.

Unknown disse...

Pra mim,Márcio Sno
é um dos cobras .
Um dos mais dedicados
do Underground Brasieiro.
Paz e Poesia,
Cecília