sábado, 17 de janeiro de 2009

Zé Oito

Um certo dia em uma montanha ensolarada qualquer de Barra do Piraí, um pessoal decidiu se juntar pra tocar algo parecido com ska-core, que chega a lembrar surf music, reggae e em uma ouvidela mais perspicaz lembra os bingos que tem todo segundo domingo do mês aqui perto de casa.
Zé Oito, uma banda regional que eu ainda não conhecia, que nunca tinha ouvido falar, já com 8 anos desde a primeira formação, disponibilizou 5 músicas para download no trama virtual, sendo uma delas proveniente de um ensaio e o restante gravado em estúdio.
A música gravada em estúdio, Mandando Ladeira Abaixo, não deixa a desejar, já com um fraseado marcante dos metais, guitarras hora pesadas hora fazendo “plem plem plem” soam como um cara correndo frenético pelas praias da flórida, parando pra respirar às vezes, voltando a correr logo e seguida, sem dúvida tem muita energia nesses caras, dá pra sentir isso na música deles.
Nas músicas do estúdio, rola uma variação boa de temas, como o contraste entre o brigão que bate primeiro e pergunta depois (Ramirinho Street Fighter) e o que apanha e pede mais (Água Mineral na Lata) . Em Varadero o surf music rola solto, é tanto que praticamente te bronzeia. Já em Latin Lover, o Murunga arrisca um espanhol comédia com um inglês esporádico, pena que acaba rápido.
Ouvi boatos de que ainda esse ano mais mp3 serão lançadas no site, inclusive a tão esperada Homem Objeto, Mulher Abjeta, é só ficar atento e conferir o site dos caras.


Entrevista:

Pando- Como o pessoal se juntou? de onde surgiu a ideia de tocar ska core e como diabos vocês acharam pessoal que toca metais que topassem a idéia?
Murunga - Eu (Murunga - voz e guitarra) e Promessa (batera e voz) já tocamos juntos há uns 15 anos, sempre tocando punk rock e hardcore. Os outros integrantes de hoje ainda não tocavam com a gente. Era uma formação típica HC ( guita, bx, batera e voz ). Por começar a pintar uma influência de ska, fomos adicionando aos poucos o ritmo ao HC. Aí, começamos a sentir falta de um naipe. O Dudu (sax) já era parceiro há séculos, sempre ouviu barulho e já tinha sido vocalista em banda pesada também. Soube que ele estava tocando sax e resolvemos convidá-lo pra fazer um teste. Ele chamou mais dois amigos e o naipe estava formado. A partir daí foram sucessivas mudanças de formação mas sempre procurando manter a estrutura e misturando sempre HC, ska, surf music, reggae e outros elementos.
A parte mais difícil da coisa realmente é ter um naipe de metais que curta o som, pois a maioria dos instrumentistas da região é militar ou toca em igreja. Os atuais trombonistas foram achados através do orkut, acredite se quiser.


Pando - Como vocês costumam compor as musicas? é tipo algum integrante que faz musica e mostra pra banda ou se reunem pra criar a musica do nada?
Murunga - O processo é mais ou menos o mesmo, mas os autores foram mudando. No começo eram o Lord (guita) e o Renato (baixo) que criavam a maioria das bases, montavam as músicas e eu botava quase todas as letras depois. Com a saída deles, a composição das bases de guita ficou também por minha conta, o Hugo adiciona a linha de baixo e eu, Promessa e Dudu vamos sugerindo e adicionando o fraseado dos metais. Normalmente é assim, mas pode começar pelos metais, como foi o caso de Homem Objeto, Mulher Abjeta que surgiu a partir de um sax que o Dudu criou e Deus Tá Vendo, que foi por uma linha de metais que eu criei.


Pando - São quantos integrantes no total? Me diz os nomes e me diz uma caracteristica marcante de cada um.
Murunga - Deivid (trombone) é quietão, na dele; Moisés (trombone) já é mais figura; Promessa (batera) é um sequelado educado com Transtornos Obsessivos Compulsivos; Dudu (sax) acha que é gostoso e entrou na banda através da cota para negros; Hugo (baixo) nós desconfiamos que é autista e eu (Murunga - guitarra) sou um escroto.


Pando - Pra vocês, quais as maiores dificuldades encontradas pela banda até agora?
Murunga - Reunir essa galera toda pra ensaiar e tocar não é fácil. Moramos e trabalhamos em 4 cidades diferentes, Deivid e Moisés defendem uma grana tocando nos fins de semana em bailes, casamentos, etc. Isso é o principal fator a atrapalhar. O resto é o mesmo de toda banda independente: falta de grana pra uma gravação bacana, espaço com som bacana pra tocar, etc.


Pando - Naquela musica Água Mineral na Lata vocês falaram daquela parada que aconteceu com o Carlinhos Brown no Rock in Rio, já que o cara tava tocando em um evento não muito favorável pro estilo musical dele. Já aconteceu alguma vez algo parecido com vocês? Algo como tocar pra um público muito distinto em termos de gosto, tipo abrir o show do Frank Aguiar ou do Agnaldo Rayol?
Murunga - Ainda não, exatamente por que temos mais bom senso que ele. Minha prima já nos chamou pra tocar num aniversário dela e não topei porque sei que ninguém (ou quase) iria curtir. Se ele tivesse tido essa noção antes de pensar no cachê não seria piada até hoje. O que já aconteceu de tocarmos em Barra do Piraí e minha mulher e alguns amigos nossos reunirem várias e várias garrafas de água vazias para nos jogarem durante a execução dessa música. Choveu muita garrafa no refrão, o que gerou um péssimo precedente. Em Juiz de Fora, o viado do Xan (Freakshow) ficou me jogando garrafas cheias e o Pablo (Beat Bass Hightech) toda vez que tocamos ele surge do nada com algo pra me jogar.

Pando - Eu conheci o ska-core com o pessoal que andava de skate, tem alguém da banda que anda?

O Promessa andava há um tempo atrás, mas era mais naquele esquema desodorante, sempre embaixo do braço...

Pando - O que você achou das músicas nacionais (populares ou undergrounds) dessa década? Foi surpreendido em algum momento ou se decepcionou?

Murunga - No underground sempre teve e sempre vai ter muita coisa boa e muita merda também. Agora, em se tratando das maiores, os anos 90 tiveram melhores representantes, com Raimundos, Planet Hemp, Chico Science e Nação Zumbi, etc. que foram bastante criativos e criaram sons originais ou relativamente originais. Hoje tá essa febre emo que eu, particularmente, não gosto nem sei diferenciar entre as bandas. Parecem-me todos funcionários da C&A no visual (nada contra a loja nem contra os funcionários) e, se mudar um pouco o arranjo, Zezé di Camargo gravaria tranquilamente.

Pando - Com essa coisa de liberdade pra disponibilizar material na internet, uma porção de bandas pipocaram por aí e lotaram as listas de sites do tipo Trama, Myspace e companhia. Há quem ache que ficou mais difícil achar bandas agradáveis devido a grande quantidade sem uma filtragem própria e há quem diga que foi muito bom porque com o espaço aberto, bandas antes inacessíveis passam a serem conhecidas. Qual sua opinião a respeito?
Murunga - Exatamente isso que você descreveu. Deu oportunidade pra quem não teria não fosse esse acesso à tecnologia. Mas, ao mesmo tempo deu acesso ao criativo e ao rapaz que gravou em casa cover da sua banda da moda preferida e taca isso na web. Cabe a cada um procurar o que te interesse. Quanto a mim, pessoa física, só passei a fuçar a web ao invés de fuçar lojas e sebos na esperança de achar algo interessante. Pra banda foi excelente. Tem, por exemplo, um louco na Bulgária que deixou recado no nosso myspace dzendo que andava de skate por lá ouvindo nosso som. Sem a web isso seria impossível.

Pando - O que andam ouvindo de bom?
Murunga - Nesse momento exatamente ouvindo Bad Manners. No geral, Liberator, Voodoo Glow Skulls, Amy Winehouse, Matanza, Red Elvises, Manu Chao, Male Factors, Djangos, etc

Pando - A musica de vocês ficaria bem sendo trilha sonora de que tipo de filme?
Murunga - filmes B!!!! Seria um honra ser trilha sonora da Pepa Filmes.


Pando - Vocês curtem video-game? Quais jogos?
Murunga - Eu curto principalmente Futebol e GTA no PC e no video game, mas o Hugo que é mais ligado nisso. Ele joga Guitar Hero e Winning Eleven também. A primeira vez que ele jogou futebol na vida dele foi no PS. Negação total!


Pando - Me explica o nome da banda?

Foi sugerido pelo Renato (ex-baixista). É o apelido de um figura de Barra do Piraí. Achamos um apelido ridículo e adotamos de cara.

Pando - Quais suas identidades secretas, digo, no que trabalham quando não estão tocando?
Murunga - Deivid e Moisés são professores de música, Hugo trabalha numa empreiteira da CSN e estuda Engenharia de Produção, Promessa toca nuns bares às vezes, Dudu é guarda municipal em Niterói e eu sou cirurgião-dentista. Sei que é um trabalho sujo, mas alguém tem que fazê-lo.


Pando - Alguém de vocês estão envolvidos com outros tipos de arte além da música?
Eu e Promessa já fizemos um filme B chamado Psicopata Aquático que nem chegou a ser finalizado. Isso conta?


Pando - Já xingou ou já teve vontade de xingar a platéia alguma vez?
Murunga - Não que eu me lembre. Em Ipatinga-MG havia uns metaleiros adolescentes que ficavam me mostrando o dedo médio. Eu agradeci por eles acharem que éramos a melhor banda, a número 1. Acho mais autêntico e mais divertido quando o povo não gosta. Indiferença é que enche o saco e desanima.


Pando - Das músicas da banda, qual sua favorita?
Murunga - Depende da época. Estamos finalizando a gravação de Homem Objeto, Mulher Abjeta, que acho legal. E Latin Lover também acho divertida, ainda mais agora que pretendo substituir o espanhol da letra pelo francês.

Pando - Enfim, tem alguma coisa que você gostaria de dizer pro pessoal que escuta o som de vcs?
Murunga - Sim. Vão se tratar!!! Se ainda assim continuarem a nos ouvir, participem da comunidade, mandem email, etc. O contato e a troca de idéias é sempre bacana. No mais, gracias, mercí, spaciba, danke, grazie, obrigado!!!

Meus agradecimentos ao Murunga e um abrá pro pessoal da Zé oito, quem quiser conferir o som dos caras, é só visitar os seguintes sites:

www.myspace.com/zeoito e www.deouvidos.com/zeoito

comunidade: http://www.orkut.com.br/Main#Community.aspx?cmm=2224928

Em breve mais combos de resenha + entrevista, até o/

2 comentários:

o dr. A. Noel disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Arc disse...

Cheguei a ouvir Água Mineral na Lata, e achei que a letra foi bem cômica, no entanto bastante inteligente. Parabéns Zé Oito.